Prezado Luiz Augusto Passos:
Tive oportunidade de comprar o jornal na madrugada, ao sair do hotel. Li a reportagem. Agradeço pela apresentação e o espaço e parabenizo a Marisa pela contribuição que faz para os leitores e povo de MT ao propor e divulgar temas atuais que nem todos os jornais conseguem apresentar dessa forma.
Aproveito para lhe agradecer a acolhida tão fraterna que tivemos, que vai além de qualquer compromisso acadêmico. Também, como indiquei no início das minhas apresentações, o encontro representava uma oportunidade não só de compartilhar a minha pesquisa, mas uma ocasião de aprender. E foi, para mim, está segunda perspectiva que prevaleceu. Retornei (amos) enriquecidos por tanto compromisso social, acadêmico e de vida que o grupo mostrou, numa realidade tão conflitante como a do MT. A porta foi aberta, a ponte foi tendida, agora vamos ver até onde conseguimos construir trilhas e caminhos novos numa colaboração conjunta.
Lembro-lhe que coordeno a Cátedra Unesco de Direitos Humanos e violência, na Unisinos. Ao me aproximar e entender mais o projeto entendi que também há muitas questões da violência que nós viemos trabalhando há tempo e que tem muito a ver com a questão do projeto; Em concreto, a questão de como se reproduz a violência nos aparatos do Estado de direito no Brasil, e como a cultura da violência contamina mimeticamente as pessoas e sociedades, como MT, são questões que me pareceria poderiam ser objeto de futuros encontros. Temos publicado várias obras, artigos e capítulos de livros sobre está problemática da reprodução da violência social e estrutural no contexto de uma cultura da violência. O desafio é conseguir articular estratégias para neutralizar esses dispositivos históricos de reprodução da violência. Nesse ponto, nós estamos trabalhando intensamente sobre a questão da memória das vítimas, do testemunho dos que são e foram injustiçados. O testemunho das vítimas se torna o recurso epistemológico e político para desmascarar as raízes estruturais da normalização da violência, e poder contribuir na construção de uma cultura dos direitos humanos. Da minha parte, acho que este tema, que está vinculado ao III volume do Homo Sacer: “O que resta de Auschwitz, a testemunha” poderia ser uma continuidade num outro encontro. Penso que na realidade de MT trabalhar com estratégias epistemológicas (eis aí a conexão com Merleau Ponty) do testemunho, recolher testemunhos dos injustiçados, fazer do testemunho um referente ético-político para desconstruir a normalização da violência estrutural, é algo muito valioso. A voz, a palavra da vítima tem um poder ético imenso de mostrar a barbárie que se oculta por trás de toda violência. Dar voz aos sem voz, fazer de sua palavra, o testemunho, uma memória histórica da (in)justiça é uma trabalho possível, porém uma tarefa ainda por fazer. Acho que este horizonte também contribuiria muito para seu projeto, assim como para muitos dos projetos de pesquisa e dos movimentos sociais.
Continuamos dialogando e construindo juntos. Mais uma vez, o abraço de agradecimento por tudo o carinho recebido, e um registro de reconhecimento pelo trabalho tão importante que estão realizando.
Atte.
Castor M.M. Bartolomé Ruiz
Dr. Filosofia. Pesquisador Programa de Pós-Graduação Filosofia -Unisinos
Coordenador Cátedra Unesco-Unisinos de Direitos Humanos e violência, governo e governança
http://www.unisinos.br/
Coordenador Grupo de Pesquisa CNPq Ética, biopolítica e alteridade
Curriculum Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/
Li, com muita emoção a carta agradecimento e provocação realizada pelo Professor Castor, em seu nome e de Jacira.
Nos engrandece, a todos e todas; diz respeito a cada um(a) de nós. Mais do que isso. Aponta caminhos de interlocução.
É um carta de princípios de ação e de super-ação das questões que estamos vivendo. Vamos afiar nosso coração nesta direção.
Passos