QUERIDAS PESQUISADORAS E PESQUISADORES.
Com muitas ajudas e contribuições foi entregue à FUNDAÇÃO UNISELVA o Relatório parcial de nossa pesquisa, necessário à continuidade do Projeto RuAção com o cronograma de realizações, etapas de processo visualizáveis as perspectivas da continuidade dele, dimensões que precisarão de maior trabalho, e perspectivas dos resultados publicados em mídias, eventos científicos, revistas, congressos e publicação final do relatório, coletivo.
Quero sobretudo agradecer todos e todas, pesquisadores, uma enorme quantidade de pessoas daqui e de outros lugares do Brasil que ESTÃO DE OLHO EM NÓS, torcendo conosco para que tudo dê certo, do jeito que conseguirmos. Recorto informações do relatório para informes:
I. Justificativa do Projeto
“O Projeto tem como meta compreender as pessoas que vivem/trabalham em condição de rua, com o fito de identificar espaços de troca entre vivências e saberes, permitindo aprender ensinando e ensinar aprendendo, como modo de afirmação da outreidade e de outras formas de expressão culturais, que contribua para formulações de políticas públicas de Estado, que cumprindo tanto os preceitos constitucionais que contribua para transformações jurídico políticas em direção ao Estado Democrático de Direito, honrando as assinaturas do Brasil nos grandes Tratados Internacionais às populações ‘invisíveis’ em face do abandono e rejeição de sua presença, especialmente, nas cidades. Trata-se de buscar, com eles, e a partir deles, uma outra ordem socioeconômico política que não os reduza a recursos humanos, e a uso estratégico de manobras econômico políticas que transforme a ‘sofrença’ dos vulneráveis e empobrecidos em acumulação capitalista. Estas populações são ‘cacos’ de vidros estilhaçados que sinalizam a doença e a maldade de todos e todas, que sustenta esta degradação, quer por reiterar o “uso” de pessoas, sem seu consentimento; quer pela indiferença. Ele anunciam a morte de tudo e todos, se alimentarmos a direção dos processos sociais voltados para a morte e o enriquecimento de grupos que promovem sua miséria, como daqueles que os usam na sua pseudo-recuperação e promoção, sob os despojos de seus desejos e de sua exploração. Investigar a população de rua, vivendo na e da rua, em condições de vulnerabilidade, nas áreas urbanas das cidades de Cuiabá e Várzea Grande no estado de Mato Grosso, pode contribuir com todos e todas, e com a afirmação radical dos direitos e do direito à diferença. Nunca a vida aparece tão imensa e cheia de sentido quando ela aparece despida de toda a maquiagem, quando perdeu adereços, e quando já não existe a beleza, o direito, a força, o poder, a saúde, o perfume, o dinheiro, os bens, e ela fica reduzida ao substrato residual ontológico em que sobra somente a VIDA. É pela existência crescente destas pessoas que deve avaliar a ordem econômica, jurídico, política. Darmo-nos conta de que a “civilização” em parto acelerado, dá a ‘luz’ à barbárie. E, de como o pretenso Estado Democrático de Direito se transforma em Estado Permanente de Exceção.”
Objetivo:
O Projeto tem por objetivo elaborar diagnóstico interpretativo do panorama de violência e violações dos direitos humanos das pessoas e grupos pesquisados gerados pela exploração econômica, expropriação do direito a ter direitos; pela colonização e homogeneização das alteridades; pelo estigma e apartheid de toda a expressão de diferença e pelo arcabouço jurídico político perverso. Oferecer, um retrato sem retoques, que forneça subsídios à sociedade e aos gestores das instituições de justiça e direitos humanos, educação, saúde, assistência social, cultural, segurança pública e demais instituições que fazem interface com a questão, em busca de superar as expressões institucionais que favoreçam e persistência estas expressões. Salientar a isonomia, o pleno direito ao reconhecimento de se ser o que se é, e proclamar em modo próprio a dignidade humana e de todas as criaturas animadas e inanimadas que sustentam a VIDA.
Modo de apresentação
O projeto visa compreender essa população a partir dela própria. Permitir-lhes e ampliar suas vozes como axioma do respeito à diversidade. Schopenhauer adverte que ninguém pode ter a mesma visão da cidade se morar num palácio ou em uma choupana. Se visará, pois, obter e elaborar esta cosmovisão (cosmologia) desta população, para divulga-la, em múltiplas linguagens, priorizando a cartografia que identifique sonhos, desejos, frustrações, demandas coletivas e pessoais, ambas inseparáveis uma da outra; identificar locais de moradia com segurança, melhor acesso à educação realizada como respostas às suas demandas, melhor acesso à saúde, ferramentas jurídico políticas adequados à luta por seus interesses e afirmação, bem como circuitos, mapas, territórios, os pontos das cidades, os pórticos onde se concentram e formas de aproximação entre informes obtidos na mídia; bem como produtos em forma a) de cartilha realizada com esta população na luta por seus direitos; dois pequenos filmes de curta metragem que expressem tanto os resultados da pesquisa através da voz dos moradores e moradoras em condição de rua; publicação acadêmica durante, em meio e após a pesquisa em forma de artigos, capítulos, apresentação em eventos científicos, e publicação do processo e resultados obtidos, e uma carta destes moradores à Cuiabá. Serão, ainda, consideradas dimensões quanti-qualitativas dos grupos de referência da pesquisa. O Site projetorua@gempo.com.br espelhará, ainda, pequenos vídeos acerca da orientação teórico metodológica da pesquisa, e disponibilizará orientações aos pesquisadores que se associarem a este objetivo, bem como, sugestão de procedimentos, alertas e avisos necessários às pessoas que estarão em pesquisa, no cardápio: RUAÇÃO.PESQUISA. Fornecerá, ainda, informações, documentos, produtos de outros lugares e pessoas que permitirem conhecer mais e melhor a vida dos moradores e moradoras em condição de rua.
Âmbitos dos Procedimentos:
Estão pesquisa articula um conjunto de ações programadas, enumeradas não necessariamente na ordem abaixo exposta, que formará uma trilha na consecução e execução da Pesquisa, regulando-se pelo que estiver mais próximo de poder ser viabilizado. Esta trilha terá estações de partida, expressa nos seguintes âmbitos:
NOVE Âmbitos:
I. Organização da Pesquisa
II. Base física, adequação espaço (UFMT) Sala Memória Viva e material estratégico para a pesquisa:
III. Formação e organização para a pesquisadores: Leituras, Estudos, Seminários
IV. Base social e política de pesquisadores, parceiros e apoiadore
V. Estratégias de observação, audição, tradução do expresso e avaliação das demandas
VI. Aproximação, reciprocidade, pesquisa e, eventual, registros a combinar: ficha, enquete (roteiro gerador)
VII. Troca de impressões, interpretações e de resultados de pesquisa entre pesquisadores
VIII. Resultados sistematizados em diferentes linguagens: a) popular, b) acadêmica
IX .Resultados expressos e elaborados como ponto de partida de ações de continuidade]
Abaixo consta o conjunto das ações referidas a cada um dos âmbitos, particularizando passo a passo ações necessárias, encadeadas, das quais, serão ampliadas, particularizadas e ou alteradas durante o próprio processo de execução – dada a realidade mutante – e, face das condições sócio-econômico-políticas geradas pela existência de um macro evento ou fatores permanentes (‘estruturais’). Sendo esta mesma população é mutante e peregrina, quanto a tempo, lugares, condições de possibilidade de expressão de suas organizações ações vitais, todas elas com um nível organizacional significativo, adequar-se-á às suas condições.
A descrição das execuções realizadas inclui um rol das ações constantes e permanentes (como contato, registro, com devolutiva primeira aos próprios moradores, à sociedade, informes à área pública de competências de gestores); bem como demandas que surgirem requerendo flexibilidade, adaptações, improvisos, no curso das ações programadas do Projeto.
Abaixo, constam em cada item, ações já realizadas, em curso, ou a serem ainda realizadas e aquelas permanentes, ou aguardando condições de execução.
sentamos, abaixo, discriminadamente, as ações pontuais a serem desenvolvidas nos nove Grandes Âmbitos acima apresentados. A formulação de cada ação programada informará o grau de operabilidade e de situação em curso, das mesmas, eventualmente, perspectiva de cronograma.
Em itens que apareçam surpresas como (AC) Aguardando Condições e (MI) Mostrou-se Inviável: quanto a estes itens, iremos esclarecer a dificuldade, impedimento que obstaculizou ou tornou a ação desnecessária, inútil ou aguardando condições específicas para poder ser realizadas.
O item (EE) – Em Execução – é parte da dinâmica da metodologia fenomenológica, manter ações de forma permanente, reavaliando-as, reforçandos-a, abrindo-se, contudo, a fatores dinâmicos da realidade social, temporal, espacial e políticos.
A cada item exporemos, sempre que possível, a expectativa de termo da ação.
Leitura de códigos:
(EE). Em Execução
(CC). Concluído
(AC). Aguardando Condições
(PP). Pós Pesquisa
(AP). Ação Permanente
(MI). Mostrou-se Inviável[1]
As dificuldades encontradas tiveram distintas razões.
- O estabelecimento de históricas relações de constrangimento, violência sistemática por diferentes setores sociais tem reforçado o nível de desconfiança que se transfere aos pesquisadores e pesquisadora, retrasando ações da pesquisa por um período de aproximação exigindo, para o que era meta fundamental da pesquisa pudesse ser alcançada um tempo de estabelecimento de vínculo de confiabilidade e de reconhecimento.
- As formas com que se instaurou o processo da copa, e a pesquisa voltar-se a este tempo, era o que exatamente pretendíamos, trouxe enorme insegurança e medo, aliás fundado; formas de desocupação, internação compulsória, ameaças por distintos setores, que envolviam também setores econômicos que tinham particular interesse no evento, e tinham pressa de alcançar seus objetivos, trouxe maior insegurança com pessoas estranhas á convivência com o grupo..
- Certa ‘escuridão’ do que se passaria nos processos da organização centralizada do evento, e um sigilo que, de fato, alterou o modo de viver, e deixou um stress social geral, mais marcado, contudo, na população em condição de vulnerabilidade, com perdas de territórios, casas, benfeitorias, pressões para o deslocamento por parte de comerciantes e grupos econômicos, e em alguns casos, ocultamente de quando estas operações se dariam. Isso, não se constituiu de maneira excepcional, ao contrário, era a lógica do sistema mas a forma como se realizou em Cuiabá, em forma da sanfona, que se refletiu no ritmo das obras, teria consequências na pesquisa.
- A população de moradores, a exemplo, do Porto, ficou muito mais claro o conflito entre a busca de um embelezamento para mercado, e a destruição ambiental das margens do rio, por calçadões que devem alterar a paisagem, e acabou na prática, por exigir o desaparecimento da população que ali, inclusive, praticamente morava como comunidade.
- Não foi diferente a área de Várzea Grande, pelas obras próximas a aeroporto que gerou um conjunto extenso de população desempregada e com problemas, efetivamente, de fome. Os CENTRO(s)-POP desativaram seus serviços durante o período da noite, e os fins de semana. Há indivíduos que, efetivamente, comem mal, ou não comem no fim de semana, e engrossam as filas para o café da manhã de segunda-feira.