Não ter espaço algum é a forma histórica de todas as opressões. Desde os exílios célebres em que o território, berço dos antepassados são mutilados, para não conferir uma memória perigosa. Encontra-se no fundo da alma humana as mesmas árvores, os mesmos rios, os mesmos nomes, os mesmos pássaros que fazem parte de seu modo de ser, inseparáveis de si, e transforma o ser humano singular em comunidade de destino. Desta feita a desterritorialização, a expulsão da terra constitui a forma mais grave de violência real, física, política e simbólica. O colonialismo faz isso como missão, destruir o sentido histórico e de destino comum, mina o sentido da razão de viver mais radical, pela forma certeira, de expropriar as pessoas de si, e os grupos étnicos, tribais, pela ocupação dos seus territórios, e por colocar neles as marcas da subserviência e da dominação. Os mapas de Cuiabá e Várzea Grande mostram a mesma violência colonial expressa no poder de grupos dominantes, que destroem a população por dentro. A higienização, dos que nascem em viagens no mar, os que são expulsos de sua terra natal, expulsos pela sobreposição mais radical de modelos fechados de modos de ser, ameaça de ter sua humanidade massacrada, e sofrer o aniquilamento como pessoa e como cidadão. De sorte que os grupos já empobrecidos, se oblitera, neles e nelas, todas as formas de luta, em favor do sentido histórico de sua memória e identidade. Minha neles e nelas, o resistência e a rebeldia minando- neles e nelas – em favor da autodeterminação e emancipação.
Luiz Augusto Passos