DO LIVRO
RuAção – OS OUTROS EUS DE NÓS: Da Pedagogia da Rua à Politica da Rua
EdUFMT
Prefácio Boaventura de Souza Santos
Organizadores(as)
Solange Terezinha de Lima Guimarães
Cláudia Cristina Carvalho
Luiz Augusto Passos
José Marina
Este livro é o primeiro de uma coleção que se intitula “RuAção – Vulnerabilidade & EducAção em Pesquisa.
Compõe recortes de uma pesquisa de população em condição de vulnerabilidade de moradores, trabalhadores em condição de rua e sua resistência e resiliência, privilegiando neste primeiro volume uma fenomenologia merleau-freireana, voltada à educação a partir dos oprimidos. O projeto RuAção é projeto realizado pelo Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação (GPMSE) e pelos Grupo de Estudos educação & Merleau-Ponty (GEMPO) da Universidade Federal de Mato Grosso, ligado ao Programa do Pós Graduação em Educação conveniada com a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, e à Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos de Mato Grosso, e à proponente Centro de Referência dos Direitos Humanos em 2014. O Livro foi acolhido com entusiasmo pelo Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos.
A pesquisa do referido volume versa sobre os resultados da Pesquisa realizada em Cuiabá e Várzea Grande da População que trabalha e vive na rua, com os devidos recortes.
O livro pretende ter um caráter também de certa iniciação à Fenomenologia Merleau-freireana com vistas a ir construindo uma metodologia de tradução de uma orientação teórico metodológica voltada à vida vivida, e ao mundo vivido, e demonstrar perspectivas interpretativas a partir desta releitura, atribuída ao Filósofo Fabio Di Clemente (UFES).
Excerto da Apreseentação do Professor Boaventura de Souza Santos:
Boaventura de Sousa Santos prefacia o livro
RuAção: Das epistemologias da rua à política da rua
“Apresento-vos um livro arriscado. Apesar de escrito a muitas mãos quase todas escrevem apoiadas pela mão de Merleau-Ponty e Paulo Freire, o que confere ao livro uma coerência surpreendente. A ordem da razão cartesiana é submetida à ordem e desordem da vida e da experiência. E no umbral dessa experiência estão os corpos por onde passam os sentidos cruzados das interações e das intersubjetividades de modo a deixar de fazer sentido as distinções burocráticas do conhecimento eurocêntrico moderno, sejam elas entre sujeito e objeto, entre corpo e alma, entre sentir e pensar. A subversão é grande e, é justo perguntar, ficará à porta do livro? Corpos-feitos-palavra e palavras-feitas-corpo e tudo num mundo bem terreno sem nostalgia de aléns. Mas num aquém de diferenças gritantes que saltam por cima da cumplicidade e da solidariedade. A diferença-mãe está na desigualdade entre os corpos e suas palavras. Corpos agasalhados, bem alimentados, bem sucedidos na vida e corpos nus, e precários a partilhar o lar da rua, vivendo na sombra da ausência e da morte, muitas vezes ausentes até à morte, seu único momento de presença. Palavras abundantes, bem escritas e eruditas, bem vestidas de papel escrito e impresso, e com os ornamentos recomendados a que chamamos notas de rodapé, e palavras desgraçadas e desgarradas, silenciosas, ora monossilábicas ora eloquentíssimas mas nunca bem compostas, sempre reverentes e sempre táticas para que da reverência resulte alguma moeda. Corpos que falam e escutam para poder saber, e corpos que sabem para poder falar e não ter de escutar. Palavras-do-encontro que têm parentes bem posicionados nas bibliotecas, e palavras sem eira-nem-beira, para quem cada encontro é apenas um desencontro menor. Corpos-que-têm-outros-encontros-obviamente-mais-importantes, e corpos-que-têm-outros-encontros-obviamente-mais perigosos. Palavras-que-constroem-espelhos, e palavras-que-são-espelhos.
A pungência deste livro, seu risco bem assumido, reside em espetar nos olhos do leitor os limites do trabalho académico ao ponto de quase o cegar. A luz que resta ao leitor é para sair do livro e ir juntar-se à luta por uma sociedade com corpos e palavras ainda mais diversos mas muito menos desiguais. (Continua…)
APRESENTAÇÃO DO LIVRO DO PROJETO RUAÇÃO:PROFESSOR JOÃO CLEMENTE DE SOUZA NETO (Prof. Dr. Mackenzie, São Paulo) Possui graduação em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira (1987), mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1992), doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1997) e pós-doutorado em Sociologia Clínica, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2005). Atualmente, é professor adjunto do Curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e membro do Socius, Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações (Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade Técnica de Lisboa). Integra o Instituto Catequético Secular São José – ICSSJ; a Pastoral do Menor da Região Episcopal Lapa, São Paulo, SP, e a Associação Civil Gaudium et Spes – Ages, na área da criança, do adolescente e famílias em situação de vulnerabilidade social. Tem experiência na área de Ciências Sociais, com ênfase em Análise Institucional do campo da infância e da adolescência, atuando principalmente nos seguintes temas: construção e circulação do conhecimento, cultura, subjetividade, pedagogia social, cidadania, sujeito, assistência, direitos sociais, municipalização, educação, organizações públicas não estatais e exclusão social. Ultimamente, realiza pesquisas sobre socialização, aprendizagem, inserção social, desvio, práticas sociais, diversidade cultural e pedagogia social. É autor de vários artigos e livros sobre os temas pesquisados |
Professor João Clemente de Melo Neto (Mackenzie/S. Paulo)
EdUFMT
“O conjunto do material traz uma novidade que tende a repercutir nas relações humanas e na forma de pensar as políticas públicas. Os textos enfatizam a importância de se colocar no lugar do outro, de escutar seus apelos, de priorizar a vida humana, desreificam as categorias analíticas e buscam uma melhor aproximação com o fenômeno. Um dos grandes desafios dos povos é aprender a conviver juntos, no sentido do respeito de si, do outro e de todos os seres viventes do Planeta. Os textos apresentados trazem uma reatualização do pensamento fenomenológico, sobretudo pela perspectiva de Merleau-Ponty, Paulo Freire e Levinas. Com simplicidade e singeleza, o material busca desvelar e compreender a situação da população de rua, que não é um fenômeno novo, mas que, no contexto atual traz um conjunto de novidades que podem ser mais facilmente apreendidas quando o pesquisador tem uma atitude fenomenológica. Neste sentido, a teoria ilumina a realidade e a realidade ilumina a teoria. Todos os atores envolvidos na pesquisa se modificam e produzem um conhecimento que transforma a realidade. Trabalhos com esta qualidade contribuem para o avanço do conhecimento e a melhoria das relações humanas, por um olhar dialógico.Que o grupo de pesquisadores não perca o espírito da fenomenologia e não seja prisioneiro de instrumentos burocratizantes e nem prisioneiro do mercado”.
Prof. João Clemente de Melo Neto.
Parecer do professor Manoel Pereira de Andrade (UnB)
‘A publicação tem relevância pela sua abrangência, participação de diversos pesquisadores, inclusive de outras universidades, e principalmente pela imersão na realidade da população em situação de vulnerabilidade. A forma de interpretação, voltada à vida imediata com orientação teórico metodológica de Merleau Ponty, dão consistência e riqueza ao trabalho. A partir deste referencial teórico, o trabalho buscou ir além do antropocentrismo, resgatando o vínculo com a terra, com a natureza, com o impensado, com o corpo como expressão de saber, de aprendizagem. Assim nos enriquece apontando que há uma pedagogia viva nas ruas, a qual não chega a nós
‘.